Hoje quero compartilhar aqui no blog um poema lindo sobre o desapego... Ele é de um psicoterapeuta existencial chamado Valdemar Augusto Angerami - Camon.
Por mais que procuremos segurança e solo firme para pisar durante toda a nossa vida, a única certeza que temos é da inconstância... Por isso, o desapego é essencial... A muito tempo atrás, eu me peguei refletindo sobre a palavra DESENVOLVER, que significa crescimento, evolução no curso da vida, não é? Pois, bem... Para desenvolvermos precisamos DES _ ENVOLVER... deixar de se envolver, se desembaraçar das coisas, dos momentos, das pessoas... para que possa crescer e ter condições de caminhar, se envolvendo com outras e des-envolvendo no tempo certo. Nessa dança da vida, se envolvendo e des-envolvendo! Para o isso se faz necessário o Desapego... Saboreiem o poema do Angerami - Camon...
Espero que gostem...
" inverno... a Constelação de Escorpião
sinaliza um novo tempo...
uma nova ilusão...
O outono se foi... o outono ficou
apenas em reminiscências de
doces recordações do que se foi...
dos sonhos... da ilusão...
do que foi vivido...
do que foi perdido... o tempo não passa...
quem passa somos nós...
O inverno é o mesmo hoje, ontem
e amanhã... do apego da vida
a própria finitude... de nossa
efemeridade... de que somos passagem...
de que somos fragrância que se
perde no ar... da ilusão de
que somos senhores das nossas vidas... de que nada somos...
do orvalhar na madrugada... do olorar dos
craveiros... da florada de inverno com
sua exuberância e que também irá
se transformar quando
chegar a primavera... da dor...
das lembranças e momentos felizes...
das noites de alegria...
De que somos a
exuberância da transformação...
de que somos o nada...
de que nada somos
diante da dimensão do universo...
e de que o universo somos nós
na imensidão do amor... de que
o mar guarda em suas
águas o segredo do desapego...
da lágrima e dor... do riso
de alegria... de que a minha
vida é nada... tudo...
E de que tudo se transforma
diante do desapego... e o que é o apego se
a vida é desapego?! Dos amigos que se
foram... dos desencontros...
das despedidas... dos encontros...
da alegria da chegada e do choro doído
das partidas... de como as floradas
se abrem ao vento que irá
despetá-las... de como nos
apegamos a tudo e nada somos...
de como a vida nos mostra a
todo instante... a todo momento
que tudo se transforma em
despedida... em renovação...
Outros invernos virão... ainda que
a minha alma vagueie perdida
em busca de novas floradas... ainda que
meu espírito busque pelos cantos dos universos seus
pontilhados de apego... o desapego é
a própria condição humana... eu sou
o meu passado no desapego... passeio pela
minha infância e tomo sorvete
na tarde de verão... e vejo o bonde
passando pela minha rua... esse bonde levou
meus sonhos de menino que
hoje procura esse vazio que ficou...
e de que adiantou o apego se tudo se constitui
em desapego?! E o que é a vida se tudo,
absolutamente tudo, é nada...
se tudo é uma ilusão a nos
mostrar a magnitude do desapego...
de que floradas se renovam...
e de que o luamento está sempre a
nos mostrar a nova estação... de que sou tudo
diante do desapego... e de que a
minha vida não me pertence...
eu sou por ela levado... e que o apego
maior da vida é o desapego em suas
diferentes manifestações... de que sou
desapego ainda que tente negá-lo...
de que as transformações que vivo
sempre me mostram que tudo
sempre está passando... passando...
passando... assim como essas linhas passaram...
assim como esses momentos se foram...
no desapego da condição humana..."
Abraço!
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